É famoso um antigo provérbio chinês de cerca de 500 a.C., atribuído a Lao-Tsé, que prega: “Dê a um homem um peixe e ele se alimentará por um dia. Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida”.

É esse o conceito por trás do 3M Impact, programa global do Instituto 3M que estimula funcionários da empresa a se engajarem em atividades pro bono contribuindo, com seu capital intelectual, para o desenvolvimento de organizações de impacto social.

Os funcionários investem seu tempo em dar consultorias que vão ajudar essas instituições parceiras a melhorar processos internos. Assim, o Instituto 3M não dá o peixe, mas ajuda a pescar.

O mesmo conceito está por trás de várias outras iniciativas do Instituto criado em 2006 para contribuir para a transformação social promovendo o empreendedorismo das futuras gerações nas áreas de ciências e tecnologia.

Com projetos baseados em valores éticos, de cidadania e de sustentabilidade, o Instituto 3M tem como missão descobrir tecnologias sociais e desenvolver programas próprios ou em parcerias. E, nesses 15 anos, a instituição tem muito a comemorar.

Além do 3M Impact, há, por exemplo, o Formare, um programa de muito sucesso em parceria com a Fundação Iochpe que oferece educação profissional a jovens estudantes em situação de vulnerabilidade social.

Ou o Desafio de Inovação e a Mostra de Ciências e Tecnologia, que envolvem professores e alunos para disseminar ciência nas escolas. Ou, ainda, o Prêmio para Estudantes Universitários, que estimula e reconhece talentos que estão na faculdade para desenvolver inovações sociais que contribuam para o bem-estar das comunidades.

Isso sem contar o trabalho em parceria com dezenas de instituições nas comunidades em que a 3M atua ou campanhas de arrecadação de recursos e donativos para famílias atendidas por essas entidades que o Instituto apoia.

“Enquanto braço de responsabilidade social da 3M, o principal objetivo do Instituto é criar oportunidades e empoderar comunidades do entorno das fábricas”, afirma Liliane Moura, supervisora de projetos sociais do Instituto.

“Acredito que a ciência pode fazer com que grandes talentos dentre os jovens sejam descobertos e se tornem motores de transformação da sua família, sua comunidade e quiçá do mundo”, complementa o presidente Fernando Valle.

Formare capacita jovens e traz talentos para a 3M

Hoje, o Instituto 3M atende 2.200 crianças até 12 anos, 5.900 adolescentes com até 18 anos e mais 650 jovens maiores de idade – um total de 8.750 vidas em todos os seus programas. Em 15 anos de atuação, foram mais de 110 mil pessoas impactadas.

Vinicius Novo, 22 anos, é uma delas. Aluno da 6ª turma de 2016/2017 do Formare, hoje ele é funcionário da 3M. O programa, que é promovido nas quatro unidades da empresa (três no interior de São Paulo, em Sumaré, Itapetininga e Ribeirão Preto, e uma em Manaus), começou em 2012.

Em 2017, filho de pais separados, Vinícius morava com a mãe, a avó e os dois irmãos e seu salário como menor aprendiz ajudava nas despesas da casa. “Nunca passamos necessidade, mas não sobrava nada no mês”, relembra ele. O contrato, no entanto, estava prestes a vencer.

Foi quando ele tomou conhecimento, por meio de uma amiga, do programa Formare. “Naquela mesma noite, abri o celular, vi que as inscrições estavam abertas e me inscrevi”, relembra.

“Vi uma oportunidade muito grande de crescimento nele. Além disso, a gente precisava da bolsa-auxílio que ele oferece.”

Vinícius conta que o Formare foi uma grata surpresa não só pela chance de aprendizado, mas também por ter aberto portas em sua carreira e sua vida. “Aprendi muita coisa, conheci muita gente, descobri áreas que eu nem conhecia”, diz. “Ele abriu minha mente para eu ver como era a ‘vida adulta’, como as coisas funcionam em uma grande empresa.”

Doze dias depois de acabar o programa, Vinícius foi contratado como assistente de produção da 3M. Hoje, é estudante de engenharia de produção, faculdade que ele paga com seu salário de facilitador de produção na empresa.

“Se não fosse o Formare, não teria tido oportunidade de entrar na companhia e nem de escolher a área em que eu atuo. Não sei nem o que estaria fazendo hoje.”

Vinicius Novo: do Formare à 3M

Até hoje, 450 alunos concluíram o curso, que conta com funcionários que são educadores voluntários – em dez anos de programa. Entre os jovens, cerca de 60%, como Vinicius, acabaram incorporados ao quadro de funcionários da 3M.

“Nossos projetos são convertidos em boas oportunidades e o mérito depende muito do jovem – ou da ONG – de como aproveitar isso”, diz Liliane. “Damos o poder da escolha, do conhecimento, da valorização da educação. Damos autoestima e a oportunidade de ter uma vida melhor.”

A supervisora alegra-se em dizer que durante a pandemia, com todos os desafios enfrentados, o Instituto 3M não apenas transformou o Formare em um modelo totalmente digital como dobrou suas vagas de 80 para 160.

3M impact e a transformação dos colaboradores

Com 13 anos de casa, Fernanda Salgado de Oliveira, gerente de Contas Canais de Distribuição Industrial, foi uma entre os 16 colaboradores da 3M que investiram, cada um, 80 horas de seu trabalho na Impact 3M no ano passado.

Sua missão era, com outros voluntários, ajudar a Teto, organização que atua em 19 países da América Latina oferecendo moradias provisórias para pessoas em situação de pobreza nas favelas mais precárias – para isso, a ONG conta com o engajamento da própria comunidade.

“Para a construção dessas moradias emergenciais feitas de madeira, a Teto oferece um modelo, um manual de como montar a casa, além da madeira que vai ser usada”, ela explica.

O que mantém a instituição é o programa de doações mensais Amigos do Teto, que conta com contribuições financeiras de pessoas físicas e jurídicas.

“O projeto que veio para mim foi a criação de um plano de viabilidade da implementação de uma fábrica social”, conta Fernanda. “Era para criarmos um modelo de negócio de uma marcenaria e carpintaria. A Teto acredita que, se fabricar a própria madeira, consegue um preço melhor para a construção das casas.”

Com a pandemia, no entanto, os recursos financeiros tanto corporativos como de pessoas físicas minguaram. “Percebemos que a parte financeira seria um impeditivo para a implantação dessa fábrica social”, relata a voluntária.

“Fazer uma fábrica sem apoio do governo, alugar galpão, comprar maquinário, tirar licenças operacionais, legalizar as operações… Tudo isso tem custo muito alto e era necessário em um momento em que não havia entrada das doações.”

Fernanda Salgado, voluntária do Instituto 3M

Segundo Fernanda, chegar a essa conclusão gerou uma grande angústia. “Tínhamos uma consultoria para fazer. Uma instituição estava esperando que a gente desse uma solução para a realização do grande sonho. Deu um certo desânimo, mas veio uma grande aprendizagem”, conta.

A gerente de Contas da 3M e seu grupo então inovaram. “Pensamos que o sonho não seria cancelado. Só seria colocado em uma caixinha para darmos um passo atrás – e a Teto poder dar três à frente em breve.”

Já que o problema era financeiro, a ideia dos consultores foi aumentar a arrecadação dos recursos. Eles então criaram o projeto de um e-commerce transformando lixo em luxo.

“Com a madeira que era desperdiçada ou não aproveitada na fábrica fornecedora ou nas casas construídas, os próprios membros da comunidade, depois de serem capacitados por especialistas, produzem móveis, bijuterias ou objeto de decoração”, explica Fernanda. “Essas peças serão vendidas na loja virtual e tudo o que for arrecadado é transformado em verba para a Teto.”

O e-commerce, segundo ela, resolve vários problemas. “O pacto social é fantástico: vira moradia, ocupação profissional, geração de renda para as pessoas que vão produzir os objetos e receber por isso e ainda envolve o conceito de sustentabilidade.”

Para a voluntária da 3M, participar do Impact foi uma experiência gratificante. “Foi uma grande troca: de conhecimentos, de experiências, de sentimentos e emoções. Conseguimos entregar para a Teto o plano de negócios completo dessa loja virtual. Não descartamos a implantação da fábrica social, mas é preciso botar o pé no chão.Temos que fazer o melhor com as ferramentas que temos.”

Fernanda acredita que o voluntariado é um hábito. “Se cada um fizer um pouquinho, a gente faz grande diferença”, diz. “O ato de ajudar é viciante. Quanto mais fazemos, mais queremos fazer.”

“Engajamento sem esperar nada em troca”

Segundo Liliane, o Instituto nasceu a partir de iniciativas dispersas de voluntariado praticadas na empresa. “Eram iniciativas focadas mais em causas e em vontade de fazer algo, e a partir dali o Instituto organizou tudo para que os projetos fossem mais estruturados, com pilares, como o de educação, mais sólidos”, afirma.

“A ciência e a tecnologia, por exemplo, são muito importantes para a companhia, e precisavam ser reverberadas de alguma forma”, conta a supervisora sobre como o Desafio de Inovação foi criado, em 2014.

O programa é um curso de formação de professores de escolas públicas em metodologia de pesquisa científica, preparando-os para a prática de ciências e para a orientação de projetos investigativos feitos por estudantes da educação básica.

Um dos objetivos da capacitação dos professores é que eles possam preparar seus alunos para a Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M, que acontece todo ano e divide os trabalhos em categorias, premiando com R$ 1,1 mil o vencedor de cada uma.

Além disso, três projetos são selecionados por professores olheiros da USP para participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a mais importante do ramo no país.

Segundo Liliane, o 3M Impact é outro exemplo de atuação estratégica do Instituto. “Quando você oferece consultoria, a inteligência que doou para melhoria de processo fica para sempre na organização”, afirma.

“Por outro lado, a semente que as instituições deixam nos voluntários também fica para sempre: 97% deles voltam com outro nível de trabalho em equipe, adaptação, flexibilidade.”

Para o presidente do Instituto 3M, o que mais chama a atenção nos programas é a vontade das pessoas em fazerem o bem. “É o engajamento dos nossos funcionários a uma causa tão nobre, que se doam sem esperar nada em troca”, afirma.

“E, obviamente, me impressiona o resultado deste voluntariado refletido no Programa Formare. Estamos melhorando as comunidades ao entorno e ensinando as pessoas a pescar através dos cursos profissionalizantes. Isso não tem preço”, conta ele.

Fernando diz que, pessoalmente, esses dois anos à frente do Instituto 3M foram para ele transformadores. “O período trouxe muita satisfação e realização. Sem medo de arriscar, as horas ‘extras’ dedicadas ao Instituto são tão gratificantes que busco fazer cada dia mais, pois o retorno é garantido, mesmo sem ser esperado”, diz.

“Hoje sou uma pessoa muito mais sensível e consciente para as causas ambientais e sociais. Esses dois anos me trouxeram um aprimoramento da consciência para a responsabilidade social que nunca teria tido em nenhum MBA. Sou uma pessoa e um profissional melhor por isso.”