Alunos vencedores de um dos prêmios da Mostra de Ciências com a criação de uma bucha biodegradável

Embora haja mais de 15 mil pessoas com deficiência em Hortolândia, no interior paulista, não é comum encontrá-las praticando atividade física. Por isso, três alunos do Sesi 437 Centro Educacional e da Escola Senai Roberto Mange criaram a plataforma Adápptei: Adaptar para Incluir, que traz informações sobre modalidades adaptadas, bem como meios de transporte e locais para a prática esportiva no município.

A partir da coroa e das fibras da casca do abacaxi, um grupo de alunos da Escola Técnica Estadual Professor Doutor José Dagnoni, de Santa Bárbara d’Oeste, também no interior de São Paulo, criou uma bucha vegetal biodegradável.

Para minimizar o problema de quem tem dificuldade de acesso à internet para assistir videoaulas, uma estudante do Colégio Técnico da cidade de Campinas desenvolveu um software que transforma o conteúdo em um PDF compacto, a partir de sua transcrição e análise.

Esses e outros 18 projetos, todos pensados, prototipados e desenvolvidos por alunos de escolas públicas do Estado de São Paulo, foram premiados na 9ª Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M, que aconteceu de 8 a 13 de novembro de forma virtual.

Setenta voluntários da 3M avaliaram 103 projetos de 35 escolas localizadas em 13 cidades diferentes. O Desafio de Inovação também reconheceu quatro professores que cursaram o Programa de Formação para a Prática das Ciências na Educação Básica.

O curso, que tem 120 horas e dura um ano, capacita professores para a prática das ciências e para a orientação de projetos investigativos realizados por estudantes.

Além disso, no encerramento da Mostra, foram anunciadas as três vencedoras do Escola Pioneira, um edital que tem como objetivo incentivar o desenvolvimento e a disseminação de práticas educativas de sucesso por meio de projetos investigativos de ciências (veja aqui o evento todo).

A cereja do bolo: o reconhecimento oferece R$ 30 mil a cada vencedor, para que a escola aprimore e continue a incentivar projetos de ciências.

Este ano, as premiadas foram a Escola Técnica Estadual ETEC Ferrúcio Humberto Gazzetta, de Nova Odessa; a Escola Estadual Doutor Cesário Coimbra, de Araras, e o Centro Municipal de Ensino Profissionalizante Osmar Passarelli Silveira, de Paulínia, todas no interior do estado.

O ano que superou o ano da superação

Para Liliane Moura, supervisora de Projetos Sociais do Instituto 3M, se a Mostra de Ciências e Tecnologia de 2020 a surpreendeu pela superação dos alunos em um ano de pandemia, esta nova edição a superou.

“Foram dois anos absolutamente difíceis para todo mundo. A educação foi muito atingida, o país regrediu em diversos índices, houve muita evasão escolar e muitos alunos não conseguiram nem fazer o básico, que era ter acesso às aulas”, afirma ela.

“E dentro da Mostra 3M, estamos falando de projetos que não são obrigatórios, onde os professores orientaram porque quiseram, as escolas apoiaram porque viram valor e os alunos desenvolveram porque se sentiram inspirados e motivados.”

Segundo ela, ter 103 projetos finalistas representa a vontade da nova geração de mudar o mundo para melhor, de usar a ciência para transformar realidades.

“No cenário de pandemia, esses alunos estão interessados não apenas em achar alguma coisa que os incomoda, em analisar isso em profundidade e propor solução, mas eles também enxergam a ciência como esperança de deixar um legado para um mundo melhor.”

Entre os projetos finalistas, muitos contemplam a sustentabilidade (como o da bucha vegetal dos alunos de Santa Bárbara) e a prevenção à violência ou à desigualdade (a exemplo dos outros dois que abrem esta reportagem).

Ao longo de 9 edições, a Mostra já impactou mais de 1.600 estudantes e 700 professores.

Escola pioneira: ninguém faz nada sozinho

O Projeto Desafio de Inovação tem como objetivo a formação de professores para a prática das ciências e a orientação de projetos investigativos realizados por estudantes da educação básica.

“O Desafio tenta olhar pra todo mundo que está envolvido com a ciência na educação: a gestão escolar, os professores e os alunos”, explica Liliane.

“Mesmo sendo os alunos os protagonistas – são eles que têm as ideias, desenvolvem os projetos e os apresentam –, eles precisam da base do professor para isso, senão não conseguem construir. Precisam de metodologia, de pesquisa, de rotina, disciplina, foco, processo, e isso quem dá é o professor”, continua.

E, afirma Liliane, para o professor poder trabalhar e ter essa liberdade de orientar projetos fora do horário de sala de aula, ele precisa ter o respaldo da gestão.

“É preciso, portanto, que a escola seja pioneira e tenha seu foco em inovação para que os alunos se engajem, para que os professores trabalhem com essa possibilidade.”

Cada uma das vencedoras do Escola Pioneira leva R$ 30 mil – até 2020 eram R$ 20 mil. “Muito por causa do que vimos na pandemia, dessa dificuldade de acesso ao laboratório, de ter equipamentos mais atualizados, o valor aumentou e conseguimos incluir uma escola a mais.”

As três escolas têm professores que fizeram a Formação durante o ano todo. “Então estamos falando de diretores e coordenadores pedagógicos que acreditam em investir em ciência, e que designaram seus professores para estudar sobre isso e para ter base para orientar os projetos dos alunos.”

Equipamentos para o laboratório de física e espaço maker

Em 2020, a EE Doutor Cesário Coimbra começou a fazer parte do Programa de Ensino Integral (PEI) do governo de São Paulo. Assim, a carga horária da instituição de ensino médio passou a ser de nove horas diárias.

“Nesse modelo, em vez de ter apenas aula teórica de física, por exemplo, o aluno tem também atividades práticas”, diz o professor Henrique Rebellato Neto. “A mesma coisa com química, biologia e matemática.”

Uma das grandes motivações para levar o PEI para a escola era, segundo o professor, a possibilidade de oferecer atividades práticas.

“Queríamos criar uma cultura de aluno investigador, que conhece como a ciência é feita. Tínhamos vontade, mas dificuldade – e sabíamos que podíamos melhorar.”

A escola conta com um laboratório de química e um de biologia que começou a ser bastante frequentado pelos alunos à procura de pesquisas e experimentos. Há na Doutor Cesário também um espaço para um laboratório de física, que está vazio.

“Agora, com o recurso da 3M, vamos conseguir equipar nosso laboratório de física e construir o espaço maker. Já temos as salas, mas não os equipamentos.”

Segundo o professor, o aluno vai ter à disposição instrumentos com sensores e possibilidades de experimentos que permitam que eles observem fenômenos, analisem dados, organizem esses dados em tabelas e gráficos, façam previsões e levantem hipóteses.

“Hoje, o aluno que faz iniciação científica é o que está na elite, que está no topo. Ele desenvolve habilidades de várias áreas do conhecimento ao mesmo tempo”, afirma Henrique.

“Acreditamos que a escola pública pode oferecer um ensino de qualidade e competitivo, para que o aluno seja autônomo, protagonista”, diz ele.

“Esta é a palavra-chave: protagonismo. Não queremos aquele modelo de aula em que só o professor fala, é detentor do conhecimento e o aluno fica sentado recebendo as informações para depois reproduzí-las em uma prova. A gente inverte esse papel: o aluno investiga, desenvolve projetos, é dono da construção de seu conhecimento.”

O sonho de ter um laboratório multidisciplinar

O Centro Municipal de Ensino Profissionalizante Osmar Passarelli Silveira nasceu da necessidade da comunidade da cidade de Paulínia de ter um espaço educacional voltado para a formação profissional e técnica de seus jovens.

Ao longo do tempo, afirma Rita Carvalho, professora de Apoio à Direção do CEMEP, ele passou a ser um centro de formação voltado à tecnologia e ciência. “O CEMEP sempre enxergou na ciência o caminho para construir o conhecimento e buscar a verdade, desconstruindo falsas premissas e ideologias”, diz Rita.

A pesquisa sempre fez parte da metodologia ativa de trabalho. “A atividade científica ocorria não somente nas aulas de informática, mas nas do ensino médio, principalmente nas atividades das ciências da natureza, mas também nas de ciências humanas”, conta.

Rita cita como exemplo um aluno que conquistou medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica e outro que recebeu a medalha na Olimpíada Nacional em História do Brasil.

Para a professora, o reconhecimento do Desafio de Inovação é a coroação de um trabalho de dois anos. “Um trabalho que nasce com a Formação para a Prática das Ciências que realizei”, afirma.

O CEMEP sabe exatamente o que vai fazer com o prêmio. “Ele é a possibilidade de concretizarmos um sonho de termos um laboratório multidisciplinar, de STEM/Robótica, na escola”, afirma a professora.

“Se a escola tivesse um espaço organizado para o desenvolvimento de mais pesquisas, de outros protótipos, projetos de engenharia e de ciências, as pesquisas poderiam ter desenvolvimento mais aprofundado”, acredita.

“Assim, o prêmio vai ajudar a escola a ter esse espaço e nos permitirá desenvolver ainda mais projetos de iniciação, mais propostas de trabalho multidisciplinares, envolvendo as diversas áreas do conhecimento para além de tecnologia da informação e robótica, como as áreas da linguagem e das artes, das ciências, humanas e da natureza, matemática.”

Mas não é só isso. “O prêmio permitirá aos alunos desenvolverem-se cientistas, desenvolvedores, profissionais, mas, antes de tudo, cidadãos que ajudam e atuam na sociedade, a modificando, melhorando e transformando.”