São 11 edições da Mostra 3M de Arte, projeto cultural que já impactou mais de 2 milhões de pessoas e deu voz a quase 2 centenas de artistas diversos.
Neste ano, cinco obras inéditas e intrigantes espalhadas pelo Parque do Ibirapuera, em São Paulo, fazem da 11a edição da Mostra 3M de Arte um evento importantíssimo que se propõe a discutir temas urgentes entre 25 de junho a 24 de julho. Assinadas por cinco artistas, três convidados e dois selecionados por meio de edital, elas carregam a missão de provocar o debate sobre história, pertencimento e estruturas de poder.
“A exposição foi criada a partir de histórias múltiplas, muitas vezes não contadas, mas que precisam ser ouvidas”, diz João Simões, que assina a curadoria como adjunto da artista e pesquisadora Camilla Rocha Campos.
Sobre o tema deste ano da Mostra, “Cor, Calor, Valor”, ele explica: “Cor vem da nossa primeira percepção, o contato visual, a dimensão do visível. Em seguida, o calor provocado pela emoção, o sentimento que não se racionaliza, a dimensão do sensível. E, por fim, vem o valor da construção do pensamento”.
Todas as instalações seguem essa premissa, atraindo olhares, provocando sensações e nos fazendo refletir, reforçando o papel da arte como ferramenta de transformação permanente, capaz de desafiar o imaginário coletivo e estimular a transgressão dos modelos vigentes.
Esta é a segunda vez em que a Mostra é realizada no Parque do Ibirapuera, um espaço público de grande movimento por onde circulam todos os tipos de pessoas. Tirar a arte do museu e permitir o acesso à população geral é um dos grandes objetivos do evento, patrocinado pela 3M em parceria com a Elo3. Vale ressaltar que a Mostra 3M de Arte, que usa Lei Federal de Incentivo à Cultura, já é um dos projetos culturais mais consistentes e duradouros patrocinados por uma empresa no Brasil.
Conheça as obras que ficam em exposição até 24 de julho – mas adiantamos que alguns artistas já foram convidados para levar suas criações para outros locais, o que deve dar ainda mais voz às reflexões propostas.
1. Conjurando – Arjuna Neuman e Denise Ferreira da Silva
Um barco naufragado – que Denise gosta de descrever como uma caravela daquelas usadas por Pedro Álvares Cabral – mantém seu mastro e vela hasteados, rodopiando ao vento, onde vão costurados retalhos com palavras e imagens de protesto criadas por 10 artistas e ativistas negros e indígenas. Não por acaso, a obra está posicionada à margem do lago, virada para o Monumento dos Bandeirantes, que assinala violências estruturais. É um prazer adicional navegar por este imenso patchwork e sentir a mensagem de cada colaborador presente nesta ação coletiva.
Denise é a autora de Toward a Global Idea of Race (2007), A Dívida Impagável (2019), e co-editora de Race, Empire, and the Crisis of the Subprime (2013). Ela colabora com o artista e cineasta Arjuna Neuman desde 2016 em obras que discutem, dentre outras coisas, as relações entre o evento racial, as mudanças climáticas e as dimensões estruturais do tempo.
2. Quando aqui era aqui – Maria Thereza Alves
A questão indígena é tema central nas obras da artista. E no meio do verde do Parque do Ibirapuera, ela espalha 26 placas com denominações de espécies de plantas com suas nomenclaturas guarani, que vigoravam antes da colonização. Em contraposição aos nomes científicos atuais, os termos em guarani identificam poeticamente as plantas a partir de suas propriedades e interação com o entorno. Surpreendentemente, as placas não apontam para a flora local (que era a intenção primeira da criadora), porque quando se deu o processo de pesquisa para elaboração da instalação, foi constatado que a maior parte da vegetação do parque sequer é originária do Brasil, o que deu à intervenção artística ainda mais peso simbólico. As placas se referem às plantas que deveriam estar ali e não mais estão, substituídas por espécies estrangeiras.
Maria Thereza Alves, membra do International Indian Treaty Council, já se apresentou na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, para falar sobre os abusos sofridos pela população indígena brasileira. Ela participou de inúmeras mostras nacionais e internacionais, tais como a Bienal de Sidney (2020), Bienal de São Paulo (2016 e 2010), DOCUMENTA (13) em 2012 e DOCUMENTA (15) 2022, dentre outras. Recebeu o Vera List Prize for Art and Politics 2016-2018 e foi uma das fundadoras do Partido Verde em São Paulo no ano de 1987.
3. Orí, Espadas & Defesas – Rincon Sapiência
O artista é um conhecido poeta, produtor, empresário e rapper paulistano que iniciou sua carreira musical em 2000. Sua criação para a Mostra 3M é uma pirâmide coberta por terracota que exibe as faces mascaradas da criação, da preservação e da destruição. A pirâmide é a base histórica do fundamento preto africano que ergue, guarda e aflora. Ela traz no topo espadas-de-são-jorge, remetendo à proteção da mente e espiritualidade. A escolha pelo local da instalação também tem fundamento: em frente ao planetário, símbolo de tecnologia, mostrando a conexão ancestral entre a terra e o céu.
As máscaras foram desenhadas pelo rapper, que estreia na Mostra 3M de Arte com a criação de sua primeira escultura. Como músico, lançou em 2017 Galanga Livre, seu álbum de estreia. Ganhou dois troféus do Superjúri no Prêmio Multishow e recebeu o título de Revelação do Ano. Em 2018, o artista lançou seu selo musical independente chamado MGoma. Em 2019, lançou “Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps”, produzido e dirigido por ele.
4. O Jogo! – Augusto Leal
A princípio, as 36 traves de futebol com cores e tamanhos diferentes formam círculos e convidam o visitante para um chute a gol. Olhando com cuidado, dá para notar que as maiores e mais próximas do centro, nas quais a bola chega com facilidade, são as brancas. As estruturas vão escurecendo até o preto e ficando menores e cada vez mais difíceis de acessar. Não é mera coincidência com o que acontece na estrutura de nossa sociedade, onde pretos e pardos têm menos possibilidades. O artista usa o futebol, o esporte mais popular do Brasil, para mostrar que até mesmo ele é atravessado pela questão racial, propondo com sua arte repleta de elementos lúdicos, debate sobre meritocracia e as formas de operação do racismo no Brasil.
Augusto Leal, de Simões Filho, na Bahia, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia e graduado em Desenho Industrial, foi escolhido via edital para participar da Mostra. Já participou de exposições como Memórias do Alvarinho (Melgaço, Portugal) e do Festival Internacional de Arte do Rio – FIAR – Mostra Visualidades para um Novo Mundo (Rio de Janeiro).
5. Bibal Praça das Bandeiras – DUDX
São 13 bandeiras da comunidade LGBTQIAP+ hasteadas no local de maior movimento do Ibirapuera, a Praça da Paz, para compor um local de convivência e gerar uma conversa sobre identidades sexo-gênero dissidentes. DUDX viu ali o ponto ideal para falar de identidade de gênero e livre sexualidade, local de encontro e possibilidades de existência. No centro, uma escultura piramidal que marca um ponto de referência de resistência da diversidade.
DUDX também foi eleito via edital e é Diretor Criativo da Casa de Criadores. Recebeu o Prêmio EDP nas Artes 2018 pelo Instituto Tomie Ohtake e foi artista convidado da 33ª Bienal de Arte de São Paulo. Participou de eventos como SP-Arte, SSEX BBOX, Pop Porn, SPnaRua, Parada da Diversidade LGBT de São Paulo, além de ter passado pelas residências artísticas FONTE e Centro Cultural Ocupa Ouvidor 63 e Pivô Pesquisa.
Visita guiada: grupos de afinidade da 3M se encantaram com a Mostra
Colocar o discurso em prática é fundamental. Por isso, os colaboradores da 3M engajados nos grupos de Etnia e Raça, LGBTI+, Pessoas com Deficiência e Liderança Feminina foram convidados para um passeio guiado pela exposição. A turma veio das regiões de Campinas e Ribeirão Preto a São Paulo, deixando escritórios e linhas de produção por um dia, com total apoio das lideranças, para viver uma experiência de sensibilização pela Arte. Foram recebidos por João Simões, curador adjunto, e Fernanda del Guerra, diretora da Elo 3, que conduziram o passeio cheio de reflexões e ricos debates, encerrado com um piquenique sob as árvores do parque.
“Esta edição da Mostra é muito representativa, com diversidade, equidade e inclusão aplicadas na prática. E isso estar acessível a qualquer pessoa é fundamental para a construção de uma sociedade melhor”, concluiu Ludimila Campos, especialista de marketing, integrante do grupo LGBTI+.
Rosimeire Rodrigues Machado, especialista de vendas na 3M, faz parte do grupo de Pessoas com Deficiência. Durante toda a visita, ela foi assessorada e teve contato com todas as obras juntamente com o grupo.
“Mesmo que seja em um parque, a pessoa com deficiência tem acesso completo assim como qualquer outra. Eu recebi assistência do início ao fim pela questão da minha mobilidade reduzida e isso mostra o quanto a organização se preparou para receber todos os públicos”, comemorou.
Michele Siqueira, coordenadora de importação e embaixadora do grupo Etnia e Raça, visita a Mostra desde a 9ª edição em 2019. Agora, vibrou mais uma vez com todas as obras, especialmente aquelas que tratam da questão racial neste importante espaço público.
“Pessoas pretas normalmente não são representadas em exposições, então tratar as desigualdades nesse espaço é fundamental. Somos um país diverso, mas não encontramos todes em todos os lugares. A diversidade apresentada nesse evento é muito rica. Precisamos conhecer os outros grupos mesmo que não façamos parte deles para apoiá-los.”
A Mostra teve seu início em 2010 como uma exposição de arte digital no Centro Cultural Mackenzie com criações de vanguarda para um novo público para a arte contemporânea. Já passou pelo Memorial da América Latina, Instituto Tomie Ohtake e Fundição Progresso. A Mostra foi abandonando sua moldura digital, migrou para espaços públicos, primeiro no largo da Batata, e agora no Parque do Ibirapuera, e foi assumindo cada vez mais uma posição comprometida com as principais questões sociais do Brasil.
O mundo atual exige que as marcas estejam engajadas nas discussões da sociedade, se posicionem claramente, com transparência, e promovam os valores de sua marca.
A 3M está mergulhada em se transformar nas dimensões relativas à diversidade, equidade e inclusão, e muitas outras bandeiras urgentes. A Mostra 3M é mais uma fronteira em que a empresa manifesta seus valores e sua contribuição para uma mudança positiva pela ação cultural.