Os desafios e oportunidades para reduzir as emissões de carbono no transporte rodoviário de carga envolvem não apenas veículos elétricos, mas também veículos híbridos e a gasolina. Independentemente das opções, a consciência desta necessidade é clara.

Uma pesquisa inédita realizada pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), encomendada pelo ICS (Instituto Clima e Sociedade), apresenta um mapeamento dos principais desafios e oportunidades para o Brasil em relação à eletrificação do transporte de cargas.

Os desafios e oportunidades citados por 16 grandes empresas que operam no Brasil apontam a falta de marcos regulatórios e a promoção do uso de veículos elétricos como uma das questões centrais. Neste sentido, eles consideram que os avanços na legislação e normas podem gerar um ambiente favorável, com segurança jurídica para investimentos privados no uso de veículos elétricos.

Mesmo assim, o estudo mostra que há um movimento positivo no setor em direção ao investimento na eletrificação da frota, mesmo que a política de incentivos seja considerada insuficiente.

Algumas das empresas pesquisadas se comprometeram a reduzir a zero suas emissões de CO2 até 2030, visam atingir o pico de 100% da energia adquirida de fontes renováveis e já são usuários de veículos elétricos.

A lista das empresas que participaram da pesquisa inclui gigantes de setores como varejo (Grupo Carrefour), mineração (Anglo American e CBA), energia (Neoenergia e Schneider Electric), tecnologia (Grupo Sabará e Amazon), infraestrutura (Ecorodovias), serviços (Sesc), telecomunicações (Telefônica), bebidas (Ambev), beleza (Natura), saúde (Intermédica), petroquímica (Braskem), florestal (Suzano) e papel e embalagem (WestRock).

A lista de questões identificadas também inclui a melhoria da infraestrutura de tarifação e um conjunto de sistemas e tecnologias que facilitam o gerenciamento de dados; e o estabelecimento e promoção de redes de colaboração entre todos os setores envolvidos, desde a geração de energia até os fabricantes de veículos.

As empresas identificam uma vantagem comparativa nos preços operacionais dos carros elétricos, já que os custos de combustíveis como o diesel podem variar muito. Os gigantes econômicos brasileiros também citam o desenvolvimento de novas tecnologias para a descarbonização da logística, o aumento dos compromissos do mercado com as agendas globais e intersetoriais, num contexto de valorização da agenda ESG, e a geração de dados e conhecimentos a partir de projetos concretos existentes. dados como avanços importantes que podem ser alcançados com a eletrificação da frota.

A indústria de transporte é responsável por 14% de todo o CO2 emitido globalmente, de acordo com o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.

No Brasil, o setor energético foi responsável por cerca de 18% das emissões totais de CO2 em 2020, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Absorções de Gases de Efeito Estufa – SEEG. Desta quantidade, o setor de transportes foi responsável por cerca de 47%, com uma tendência ascendente.

O estudo sem precedentes destaca como grandes empresas têm trabalhado na descarbonização da frota como uma ferramenta relevante na agenda da neutralidade climática. Faz parte do esforço para reduzir os níveis de emissão de gases de efeito estufa do país, além de outras iniciativas, como a redução do desmatamento, o avanço da agenda de melhorias nos processos industriais e técnicas baixas em carbono no setor agrícola.

Mas, é claro, o processo de descarbonização do transporte em andamento segue vários caminhos, além da eletricidade: o etanol, o gás natural e o biometano são, entre outras opções já em uso, que, na opinião dos especialistas, têm muitas vantagens sobre outros países por causa de suas matrizes mais limpas.

Para alguns especialistas, o etanol desempenhará um papel importante neste processo, tanto para uso em carros híbridos a curto prazo quanto para gerar hidrogênio no carro a célula de combustível a médio e longo prazo.

3M Sustentabilidade Desafios eletrificação do transporte de carga

3M Brasil

Em fevereiro deste ano, a 3M Brasil replicou, em sua fábrica em Itapetininga, São Paulo, uma ação já realizada na unidade de Sumaré, São Paulo, em novembro de 2021, adotando o segundo caminhão elétrico de sua frota, projetado especificamente para atender a 3M Itapetininga. Com um alcance de 250 quilômetros em uma única carga, cada caminhão elétrico tem a capacidade de transportar até 3,5 toneladas.

Com a adoção do caminhão elétrico, além do significativo impacto ambiental, com redução das emissões de CO2, a empresa também conseguiu uma redução nos custos de frete devido à proximidade da planta da 3M com seus principais fornecedores e a possibilidade de transportar várias viagens por dia com este veículo. “O programa tem planos de expansão e já iniciamos estudos para replicar este modelo para a 3M Manaus, Amazonas, com previsão de lançar outro caminhão elétrico no segundo semestre deste ano, dedicado a esta fábrica”, diz Rodrigo Belinazzo , Gerente de Transportes da 3M Brasil.

Quanto aos benefícios alcançados com o uso desses dois caminhões, Belinazzo diz que o principal deles é o impacto ambiental, pois evita a geração de até 60 toneladas de emissões de CO2 para a atmosfera por ano. “Mas existem outros benefícios, como a isenção das restrições de tráfego urbano, que facilita a locomoção, o fato de ser um veículo silencioso, que reduz a poluição sonora, e conseguimos criar rotas inteligentes para otimizar o uso diário do veículo, com maior produtividade no frete, trazendo lucros para nossa operação”.

A América Latina tem um longo caminho a percorrer neste mercado, principalmente devido à sua dependência de tecnologia estrangeira para a fabricação de caminhões elétricos, o que vem a um custo elevado. "Acreditamos que a tendência é que esses modelos se tornem mais acessíveis e disponíveis à medida que o mercado local se desenvolve, e estamos procurando parcerias com empresas com o mesmo compromisso de redução de carbono que a 3M, para expandir ainda mais o uso desse tipo de veículo".

Na opinião de Belinazzo, a logística sustentável já faz parte da realidade de muitas empresas no Brasil, especialmente aquelas que têm uma política de sustentabilidade bem definida, com metas agressivas de redução de gases poluentes. A tendência de utilizar o transporte ecologicamente correto é algo que veio para ficar, o uso de caminhões elétricos e híbridos vem crescendo a cada ano e, apesar do alto investimento inicial, ao longo dos anos este investimento compensa com a redução de custos que este veículo proporciona.

O uso de bicicletas em grandes centros urbanos para entregar pequenos volumes já é uma realidade em várias cidades, e um outro exemplo. “Acredito que cada vez mais clientes e empresas buscarão produtos e serviços sustentáveis que não tenham um impacto negativo sobre o meio ambiente, portanto, a tendência nos próximos anos é que será cada vez mais possível encontrar veículos elétricos e híbridos nas estradas de nosso país.

Por outro lado, o Gerente de Transportes da 3M Brasil destaca que, embora alguns países europeus já utilizem veículos não poluentes em maior escala, como o caminhão elétrico, por exemplo, aqui na América Latina ainda é necessário um grande investimento para adquirir este veículo, em alguns casos até três vezes mais do que um caminhão de combustão. “Acredito que com o avanço da tecnologia e novos fabricantes neste mercado, haverá mais competitividade e reduções de custos nos próximos anos, o que contribuirá para a expansão desta frota no país.

Outro ponto a destacar é que não há estações de carregamento suficientes para viabilizar seu uso em muitas cidades, que ainda estão muito concentradas nos grandes centros industriais do país, e a autonomia dos veículos é um ponto de preocupação.

"Apesar de todos os desafios, na 3M acreditamos e apoiamos cada iniciativa, desde a criação de um novo produto até sua entrega a nossos clientes, para garantir uma melhor experiência e de forma sustentável".